I have seen a lot, but now I know I haven't seen it all

As pessoas são estranhas e isso é fato. Eu sou dos melhores (?) exemplos, sou estranhíssima: me isolo quando mais preciso de carinho, me irrito e acabo rindo no final, trabalho mais quando tenho raiva da empresa ou de algo dentro dela e não gosto de ar condicionado. Estranho, não? Mas isso não faz de mim a pior pessoa do mundo - nem de ninguém que seja assim - e eu provo.

Não me isolo quando preciso de carinho por vergonha disso, muito pelo contrário: exatamente porque não acho justo dar preocupação a quem eu amo. Prefiro ficar muda (e quem me conhece sabe o quanto isso é quase impossível) a encher os ouvidos de alguém que eu goste de mimimi. Até porque eu quase sempre chego ao disse seguinte me sentindo uma idiota pelo mimimi, o que significa que estaria fazendo alguém de quem eu goste de idiota, caso tivesse aberto a boca.
Acabo rindo depois de ficar extremamente irritada porque xingo, digo impropérios que só quem me conhece muito bem sabe - vá lá, alguns desavisados que estejam por perto ouvem, até porque eu falo muito alto - maldigo o mundo e... acabo fazendo uma piada com a situação e comigo. No mínimo sai um "eu dei pros 12 Apóstolos e é por isso que eu mereço!" e rio. Alto. Porque de nada adianta levar a vida xingando e se desgastando se não tivermos autocrítica e humor pra encarar esse mundo muito louco no qual estamos - até porque causaria rugas, enfartos no miocárdio e envelhecimento precoce, coisas pelas quais a nossa alimentação nada sadia já se encarrega.
Trabalho muito mais quando tenho raiva da empresa, de alguém nela ou de uma situação profissional porque assim eu provo o quanto sou competente e quanta falta farei quando der-lhes um pé na bunda bem dado. Nunca admitiria um erro profissional meu por estar com raiva ou por qualquer outro motivo emocional, já que trabalho não é lugar pra ficar sentindo nada - em situações normais já me puno, já que autocrítica é madastra má. Me cansa, me consome, mas me sinto melhor quando deito a cabecinha no travesseiro à noite.
Não gosto de ar condicionado, apesar de morar no Rio de Janeiro, porque não me deixa ouvir os sons do mundo. Eu gosto dos sons lá fora, gosto de me sentir livre, gosto desse mundo meio feio, por isso prefiro uma temperatura menos quente para poder ouvir o que se passa à minha volta, seja no carro, no trabalho ou no meu quarto. Ouvir, pra mim, é vida.

Assim sou eu. No entanto, encontro gente por aí que chora no ombro dos outros quando precisa e não ouve ninguém, xinga e não ri (por isso choram tanto nas orelhas alheias, deve ser). Gente que não suporta o emprego mas "tá bom, né?" e vive trancada em ar condicionado na vida: sem ouvir nada lá fora. O meu exato paradoxo. Alguns destes que encontrei se tornaram meus amigos e assim achei que fossem, mas realmente mostraram que não querem ser amigos de alguém tão estranho quanto eu. Não sei se seremos amigas ainda, mas de uma coisa eu tenho certeza: se não me querem assim esquisita, não farão falta em minha vida.

Acabou. Boa sorte!

Em pleno 2020, em plena pandemia, em um momento onde a maioria está passando por uma mudança radical em suas vidas, resolvi voltar aqui e s...